Lars caminhava pela aldeia, o cheiro do ar frio misturando-se com o aroma de madeira queimada nas lareiras. Os olhos dos habitantes seguiam-no de esguelha, sussurros percorriam as ruas de pedra enquanto ele avançava em direcção ao primeiro lar que decidira interrogar. O povoado parecia um relógio quebrado, com todos os ponteiros a direcionar-se para um passado que ninguém queria revisitar.
À porta de uma casa simples, Lars bateu e, após um breve momento de silêncio, uma mulher de cabelos grisalhos, visivelmente nervosa, abriu. Ela levou a mão ao peito, como se quisesse proteger-se de uma ameaça invisível.
“Bom dia, senhora. Sou o detetive Lars Jørgensen. Venho perguntar sobre a Ingrid,” disse, logo se apercebendo da tensão nos ombros dela. “Ingrid…?” ela murmurou, enquanto olhava para os lados, como se temesse que alguma sombra a escutasse. “Não sei nada do que aconteceu.” A sua voz tremia, e Lars notou o tom defensivo.Compreendendo que abrir feridas do passado não seria fácil, decidiu mudar de abordagem. “Entendo que possa ser difícil. Mas qualquer informação, mesmo que pequena, pode fazer a diferença.”
A mulher hesitou e, por momentos, parecia que ia contar alguma coisa. Mas logo se recompôs, endireitando-se. “Fui amiga dela... mas faz muito tempo. O que aconteceu foi uma tragédia. É melhor deixar o que foi no passado.”
Sentindo que não obtinha mais respostas ali, Lars despediu-se e saiu, mas não sem antes perceber um brilho furtivo nos olhos da mulher. Os nazis da mente, em forma de segredos, rodeavam cada habitante.
Mais tarde, enquanto se dirigia para a taberna, um grupo de homens parou a conversa ao vê-lo entrar. Os olhares eram pesados, a atmosfera estava carregada. Um dos homens, de barbas grisalhas, gritou: “O que é que ele quer aqui? Não temos nada para lhe contar!”
Lars sentiu a hostilidade a crescer. “Só quero entender o que aconteceu com Ingrid. Ela era parte de vocês,” replicou, tentando quebrar o gelo que se instalara entre eles.
O homem de barbas cruzou os braços, desafiador. “Nada que eu diga vai mudar o passado. É melhor que vá à sua vida.”
Antes que pudesse responder, outro morador, um jovem de cabelo rebelde, interveio. “Eu vi-a discutir… com alguém. Mas não adianta falarmos sobre isso.” O grupo silenciou, e a tensão cresceu ainda mais à sua revelação.
Lars inclinou-se para frente, a esperança a acender no seu interior. “Quem era essa pessoa? O que se passou?”
Os olhares mudavam entre si, mas nenhum dos homens tinha coragem para falar. Afinal, era mais fácil manter o silêncio do que abrir velhas feridas que poderiam ferir a comunidade.
Com um suspiro de frustração, Lars abandonou o estabelecimento. Sabia que estava a tocar em algo profundo, que cada recusa de resposta decalcava ainda mais o mistério que o rodeava. À medida que se afastava, as palavras do jovem ecoavam na sua mente: “Alguém conhecido.” O que isso significava, discutiam entre si, e por que a tensão aumentava tanto?
As peças do quebra-cabeça começavam a aparecer, mas estabelecer a ligação entre os habitantes da aldeia e Ingrid parecia mais difícil do que ele imaginara. Uma coisa era certa: a resistência dos moradores só aumentava, e cada vez que ele tentava puxar a corda do passado, ela permanecia intacta. A luta contra o silêncio tomava forma, e Lars sentia-se cada vez mais sozinho nesta batalha contra as sombras que dançavam nas memórias da aldeia.