A Confrontação

O ambiente dentro do comboio estava carregado de tensão. Os passageiros, previamente desacompanhados, agora pareciam interligados por um fio invisível de desconfiança e medo. Jo\u00e3o, com o seu olhar atento, sabia que precisava de uma estratégia diferente para conseguir extrair a verdade de cada um deles.

Assim, ele convocou todos para o vagão comum, aquele que, até então, fora uma zona de conforto durante a viagem. "Vamos fazer isto de forma diferente", disse ele, enquanto todos se acomodavam, visivelmente nervosos. A luz tênue do vagão parecia aumentar a pressão sobre os rostos pálidos dos passageiros.

"O que é que queres, Jo\u00e3o?" perguntou Sofia, com a voz trémula.

"Quero que cada um de vocês conte a sua versão dos acontecimentos desde que subiram a bordo. Nada irá ser omitido. O silêncio não será a solução." A determinação na voz de Jo\u00e3o ecoou pelos corações ansiosos dos passageiros.

A escritora olhou para Miguel, que se encontrava quieto, com os olhos fixos no chão. Sofia sentia uma mistura de sentimento em relação a ele; uma atração que agora era misturada com medo. "E tu, Miguel? Que tens a dizer?"

"Só estava a tentar ajudá-los," respondeu ele, com uma rigidez visível na sua postura. "Se calhar, o que precisavam era de mais tempo para pensar..."

"Pensar?!" interrompeu Pedro, o jovem estudante, "Tu pensaste que irias ficar insensível no que diz respeito à morte de Manuel? Isso não faz sentido!"

A atmosfera esquentou rapidamente, e Jo\u00e3o viu a oportunidade perfeita de intervir. "Vamos. Vou dar voz a cada um de vocês. Começando por ti, Sofia. O que realmente sabes sobre o que aconteceu?"

A escritora estava claramente nervosa. "Eu... eu apenas ouvi algumas coisas, conversas sobre o passado de Manuel. Parecia que ele tinha alguns inimigos." O murmúrio entre os passageiros cresceu. Cada um trocava olhares fulminantes e a tensão aumentava.

Jo\u00e3o continuou a interrogar cada um dos presentes, como um maestro a reger uma orquestra desafinada. "E tu, Pedro? O que sabes mais?" A voz de Jo\u00e3o foi firme, mas havia um ar de compreensão na sua abordagem.

"Nada que possa ser útil... eu só... tinha curiosidade sobre as histórias que Manuel contava," respondeu Pedro, mas o seu olhar desviado não enganou Jo\u00e3o. Havia algo escondido por detrás da expressão inquieta do estudante.

Então, Miguel teve um momento de pânico. Levantou subitamente, as palavras escapando dos seus lábios, "Eu não queria que isto acontecesse! Eu só queria que ele parasse de me seguir!" O silêncio abrupto que se seguiu era palpável. Todos ficaram a observar Miguel, seus rostos marcados pela surpresa.

Sofia, em estado de choque, finalmente perguntou: "De quem estavas a falar, Miguel? Quem te seguia?"

O olhar de Miguel foi penetrante, como se ele estivesse à beira de desmoronar. "A verdade é que... eu sabia que Manuel tinha algo que não deveria ter. Não queria que ele revelasse o meu segredo!"

As palavras de Miguel decidiram o clima do ambiente. Fazer a confirmação de que ele tinha um segredo, algo que não podia ser ignorado, fez com que todos se sentissem cada vez mais entrelaçados; agora, ninguém estava a salvo da suspeita.

Jo\u00e3o olhou para todos, avaliando a situação. "Portanto, há um segredo para cada um de vocês... e se um deles for a chave para descobrir o verdadeiro culpado?" A pergunta pairou no ar, como uma nuvem de incerteza. Todos sabiam que a verdade poderia sair a qualquer momento, mas o receio de cada um estava a mantê-los presos.

Enquanto a tensão atingia o auge, todos os passageiros estavam cientes de que o próximo movimento poderia ser decisivo. Seria o momento de todos revelarem a verdade que ocultavam, e, com isso, a linha entre amigo e inimigo começava a desfocar-se.

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