A Partida

O comboio partiu de Lisboa, os trilhos estendendo-se como uma fita negra sob o céu encoberto. Os passageiros, um grupo ecléctico, compartilhavam um espaço pequeno e apertado, mas as suas expressões revelavam uma tensão palpável no ar. "Acho que esta viagem vai ser longa," murmurou o jovem estudante, Pedro, enquanto fitava a janela, perdido em pensamentos.

A escritora, Sofia, observava o ambiente à sua volta, tentando captar pequenos detalhes que pudessem inspirar a sua próxima obra. Ela olhou para o homem misterioso que se sentava perto dela, Miguel, e sentiu uma estranha ligação. "Você também sente que algo está a à sua volta?" perguntou-lhe, a voz um pouco trémula, em busca de uma resposta.

Miguel virou-se lentamente, os seus olhos escuros a brilhar à luz fraca do comboio. "Sensações estranhas são comuns em viagens como esta," respondeu, o tom profundo e equilibrado, mas enigmático. Ele parecia reservado, mas os seus gestos apoiavam uma aura intrigante que não deixava Sofia indiferente.

No fundo da carruagem, o ex-polícia João observava a situação. Ele sentia a atmosfera tensa entre os passageiros, e a sua intuição alertava-o para que algo não estava certo. "Não podemos esquecer que estamos a viajar para o interior. O desconhecido pode trazer perigos," afirmou ele, olhando atentamente para cada um dos rostos.

Enquanto os minutos se arrastavam, uma tempestade súbita começou a bombardeá-los. Relâmpagos iluminavam o céu e o comboio tremeu ligeiramente. Os passageiros trocaram olhares nervosos, como se a tempestade pudesse ser o prenúncio de algo pior. "Só espero que esta viagem acabe depressa," disse o empresário ao seu lado, franzindo a testa.

Sofia, com a tempestade a rugir lá fora, sentiu-se ainda mais inquieta. Uma voz interior sussurrava-lhe que a ligação que tinha com Miguel ia além da mera curiosidade. Mas a confusão era tanta que nem ela própria conseguia entender o porquê. "Miguel, o que você realmente procura nesta viagem?" questionou, a expectativa de um segredo no ar.

Ele hesitou por um momento antes de responder: "Procurar é uma parte da vida que nunca termina, Sofia. Você também não procura algo?" O tom dele era provocador, um convite a partilhar as suas vulnerabilidades, mas Sofia hesitou. O som da tempestade fazia o comboio parecer ainda mais um abrigo de solidão.

Com a escuridão a tomá-los, os passageiros souberam que a verdadeira viagem tinha apenas começado. A ligação misteriosa entre Sofia e Miguel, agora mais forte e indissociável, somava-se à tensão crescente no ambiente. O desconhecido chamava-os, e eles poderiam não estar prontos para o que estava prestes a ser revelado.

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