Enquanto o comboio avança pela noite, a atmosfera carga-se de tensão. João, o policial, observa cada passageiro com um olhar penetrante. Ele sabe que a verdade está escondida em algum lugar entre eles, e é seu dever desenterrá-la. Com um leve gesto da mão, ele inicia o interrogatório, começando pela escritora que, algumas horas antes, estava absorta em seus pensamentos.
“Sofia, você disse que estava a investigar um crime semelhante para o seu novo livro. Poderia explicar-me do que se trata?” questiona João, a voz firme.
Sofia hesita por um momento, olhando para os outros passageiros que escutam atentamente. Finalmente, ela toma coragem e responde:
“É uma história sobre um assassinato numa viagem de comboio. A protagonista começa a descobrir segredos entre os outros passageiros, levando-a a questionar quem realmente pode ser confiável.”
Os olhos de João brilham com interesse, mas ele sente que há mais na história dela do que apenas ficção. A escritora parece estar a esconder algo, e isso não lhe escapa.
“Então, a sua pesquisa foi inspirada por eventos reais?” ele insiste.
“Na verdade, sim,” responde Sofia, a voz a tremer ligeiramente. “Mas não posso dizer mais sem ofender as memórias dos envolvidos.”
Nesse momento, o jovem estudante, Pedro, levanta a mão como se estivesse na escola.
“Desculpe, mas acho que você sabe mais do que está a dizer,” diz ele, olhando para Sofia com uma mistura de desafio e curiosidade.
João foca toda a sua atenção em Pedro. O jovem nunca pareceu tão radiante, mas havia uma sombra de nervosismo nos seus olhos. João precisa de pegar essa oportunidade.
“Pedro, como assim?” pergunta João, inclinando-se para frente.
“Eu… eu estive a ver um padrão. Manuel não era um passageiro comum. Ele tinha clientes e… inimigos,” explica Pedro, a voz a falhar.
Os passageiros trocam olhares inquietos, a tensão na sala torna-se quase palpável. Sofia, agora sem saber se deve confiar em Pedro ou afastar-se dele, decide intervir.
“Mas, o que isso tem a ver comigo?” questiona ela, confusa.
“Você estava a investigar,” responde Pedro, a voz carregada de emoção. “Provavelmente sabia mais sobre ele do que os outros.”
João observa atentamente, pronto para fazer a próxima pergunta. Mas, antes que possa falar, um dos outros passageiros, um empresário nervoso, levanta-se abruptamente.
“Basta! Estão a fazer insinuações sem qualquer prova. Todos nós temos os nossos segredos,” diz ele, a voz elevada. “Mas isso não significa que sejamos culpados de algo.”
O clima fica tenso. João sente que a situação está prestes a explodir. Era exatamente isso que pretendia evitar.
“Calma! Precisamos de manter a calma e falar sobre o que realmente aconteceu,” tenta apaziguar João, mas a agitação já se espalhara.
Por um minuto que parece uma eternidade, o comboio avança enquanto os passageiros começam a discutir entre si, vozes elevadas, acusações e defesas. A tensão transforma-se em uma onda de pânico, e toques de medo aparecem nos rostos de todos.
Foi nesse momento que alguém grita: “Onde está o Carlos?”
Os olhares mudam, e a confusão instala-se. Um passageiro que não fora interrogado, Carlos, desaparecera sem deixar rasto.
“Ele não poderia ter saído do comboio!” exclama um dos outros.
Um silêncio pesaroso toma conta do compartimento. Os segredos começam a emergir à superfície, como bolhas de ar numa água agitada, e a incerteza cresce. João prepara-se para a próxima fase do interrogatório, sentindo que todos estes ecos de luta e medo são apenas o início do que irá descobrir.