A Revelação

O sol matinal de Lisboa despontava timidamente, lançando um brilho suave sobre as fachadas antigas da cidade. Rui e Sofia fizeram o caminho habitual até ao Café Alfama, mas desta vez o seu semblante era mais carregado. Havia algo inquietante na forma como Miguel os tratara na noite anterior. Rui, sempre com olho para detalhes, sentira que havia algo fora do normal na forma como o comerciante de artefactos mágicos se comportara.

"Sofia, temos de falar com Miguel novamente," disse Rui decidido, enquanto abria a porta do café. "Algo não está certo e precisamos de respostas."

Sofia assentiu, embora a preocupação se visse nos seus olhos. "Concordo. Devemos ser cuidadosos, Rui. Se ele está a jogar dos dois lados, pode ser mais perigoso do que imaginamos."

Sobrinha-se com a cabeça, ambos sabiam que tinham de mover-se rapidamente. O mercado subterrâneo, onde a maioria dos negócios de Miguel era feita, estava estranho e quieto. Uma vez lá, caminharam entre as bancas até encontrarem a de Miguel, que os aguardava com um sorriso enigmático.

"Ah, Rui, Sofia! Voltam tão cedo?" perguntou ele, com um ar de quem já esperava a visita.

"Precisamos de falar contigo, Miguel," disse Rui diretamente. "Em privado."

Miguel fez-lhes sinal para seguirem-no até ao mesmo escritório da visita anterior. Assim que a porta se fechou, Sofia não perdeu tempo em formular a acusação.

"Miguel, sabemos que trabalhas para a Irmandade das Sombras," disse ela sem rodeios. "Não vale a pena negares."

O sorriso de Miguel desapareceu lentamente, substituído por um olhar frio e calculista. "Vocês são mais espertos do que eu pensava," admitiu ele, sentando-se na sua cadeira de madeira. "Sim, trabalho para a Irmandade. Mas não estou contra vocês. Era o melhor modo de obter informações vitais."

"Informações vitais para quem?" perguntou Rui, sentindo a raiva fervilhar dentro de si.

"Para ambos os lados," respondeu Miguel com uma calma perturbadora. "A Irmandade tem recursos, mas vocês têm algo que eles subestimaram: a capacidade de pensar rápido e agir sem hesitação."

"E pensas que vamos acreditar em ti?" retrucou Sofia, dando um passo à frente. "Precisamos de mais do que palavras. Queremos saber quem está a liderar a Irmandade."

Miguel suspirou, percebendo que não havia para onde fugir. "Muito bem. O líder da Irmandade é conhecido como A Sombra Ancestral. Ele é um ser poderoso, que remonta aos tempos antigos. A sua sede de poder é infinita e o Olho de Orion é apenas um dos muitos artefactos que ele procura para consolidar o seu domínio."

Rui fitou Miguel, o seu semblante a endurecer. "E onde o encontramos?" perguntou ele, a voz firme.

Miguel hesitou por um instante antes de ceder. "Há uma fortaleza subterrânea, localizada nas profundezas das catacumbas sob o Mosteiro dos Jerónimos. É lá que A Sombra Ancestral mantém as suas operações."

"Obrigado, Miguel," disse Rui com um tom cortante. "Mas não penses que isto acaba aqui. Vamos derrotar a tua Irmandade e pôr um fim a tudo isto."

Enquanto se preparavam para sair, Miguel fez um último apelo. "Rui, Sofia, eu realmente quero ajudar-vos. A Irmandade é mais perigosa do que vocês percebem. Se precisarem, estarei por perto."

Sofia lançou um último olhar desconfiado a Miguel, antes de saírem do escritório. "Vamos?", perguntou ela a Rui, e ambos subiram à superfície, onde o sol os aguardava. O próximo passo estava claro.

De volta ao Café Alfama, Rui e Sofia começaram a elaborar um plano. Sentaram-se à mesa habitual com um mapa de Lisboa espalhado à sua frente. Rui, ainda a sentir a traição de Miguel, canalizava a raiva e a frustração para afinar os seus dons mágicos.

"Precisamos de reforçar as nossas defesas," declarou ele. "E passar despercebidos até estarmos prontos para invadir a fortaleza."

Sofia, que inicialmente estivera chocada com a revelação, tornou-se mais determinada e astuta. "Temos de ser cautelosos. A Sombra Ancestral não vai subestimar-nos. Vamos precisar de aliados e de todo o conhecimento disponível."

Contactaram velhos conhecidos que poderiam ajudá-los e começaram a preparar-se meticulosamente para o que estava por vir. Sabiam que a próxima batalha seria decisiva e que falhar não era uma opção.

"Rui, sei que te sentes traído, mas usa isso a teu favor," disse Sofia, os olhos fixos nos dele. "Transforma essa raiva em poder. Eu estou contigo, sempre."

Rui sentiu uma onda de gratidão e determinação. "Obrigado, Sofia. Vamos fazer isto juntos. Vamos derrotar a Irmandade e proteger Lisboa. Por todos."

Enquanto preparavam os últimos detalhes do plano, a tensão no Café Alfama era palpável. Dentro de poucas horas, desceriam novamente às profundezas de Lisboa, enfrentariam as sombras e tentariam pôr um fim ao domínio da Sombra Ancestral. A batalha seria dura, mas estavam prontos. Juntos, Rui e Sofia iriam enfrentar o desafio final, decididos a vencer.

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