No subterrâneo de Lisboa, as sombras pareciam cerrar-se ainda mais à medida que Rui e Sofia caminhavam pela escuridão opressiva. As suas lanternas lançavam feixes trémulos de luz, revelando antigos símbolos esculpidos nas paredes de pedra. Conheciam bem o seu objetivo, mas o peso da tarefa fazia-se sentir com cada passo.
"Estamos perto," disse Rui em voz baixa. "Os guardiões devem estar à nossa espera."
"Precisamos estar prontos para tudo," respondeu Sofia, ajustando a alça da mochila onde guardava os itens necessários para o ritual. "Não vamos entrar em pânico. Juntos somos mais fortes."
Avançaram mais um pouco até encontrarem uma enorme câmara subterrânea, onde pilares majestosos sustentavam um teto abobadado. No centro da sala, uma ampla mesa de pedra exibia o que pareciam ser fragmentos de um artefacto antigo, irradiando uma luz azul pálida.
"O Olho de Orion," murmurou Rui, sentindo um arrepio.
Antes que pudessem aproximar-se, um grupo de criaturas surgiu das sombras ao fundo da câmara. Eram altos, com formas humanoides cobertas de uma pele negra e escamosa, os olhos a brilhar com a mesma luz azul intensa que o artefacto.
"Foram avisados," rugiu uma das criaturas, a voz reverberando nas paredes da câmara. "Este lugar está protegido. Saiam enquanto podem."
"Não vamos embora sem o artefacto," declarou Rui, os olhos fixos nas criaturas.
As criaturas avançaram, e a batalha começou. Rui e Sofia lutavam com todas as suas forças, mas era evidente que estavam em desvantagem. As criaturas eram rápidas, fortes e implacáveis.
"Rui, precisamos de ajuda," gritou Sofia, bloqueando um ataque com dificuldade.
Rui sentiu um poder antigo a emergir dentro de si, algo que tentara suprimir durante anos. Com um grito de determinação, levantou as mãos e deixou que a energia fluísse. Luzes brilhantes emanaram dos seus dedos, formando uma barreira de proteção em volta deles.
As criaturas hesitaram por um momento, surpreendidas pela súbita manifestação de poder. Rui aproveitou a oportunidade para lançar feixes de energia contra eles, iluminando a câmara com um espetáculo de luzes e sombras.
As criaturas recuaram sob o impacto das forças mágicas de Rui, mas reagiram rapidamente, tentando romper a barreira e enfrentar os dois intrusos de frente. No entanto, com cada novo ataque, Rui parecia crescer em força e confiança.
"Sempre soube que tinhas isso dentro de ti," gritou Sofia, lutando ao lado dele. "Continua, estamos a ganhar."
Com uma última explosão de energia, Rui derrubou as criaturas restantes, que desapareceram nas sombras, deixando a câmara num silêncio assustador. Ofegantes, Rui e Sofia aproximaram-se da mesa de pedra.
"Está feito," disse Rui, sentindo um cansaço pesado a apoderar-se dele. "O Olho de Orion... finalmente."
Sofia sorriu, os olhos brilhando de alívio e admiração. "Conseguimos, Rui. Acabaste de salvar-nos a todos."
Enquanto Rui pegava nos fragmentos do artefacto, Daniel, um antigo colega e amigo de Sofia, surgiu da penumbra da câmara. Os olhos escuros fixaram-se nos fragmentos na mão de Rui antes de se voltarem para os seus rostos cansados.
"Daniel?" exclamou Sofia, surpresa. "O que estás a fazer aqui?"
Daniel sorriu friamente. "Sofia, Rui... nunca suspeitaram? Eu sou um dos principais membros da Irmandade das Sombras. E vim buscar o que é nosso de direito."
Rui recuou, apertando os fragmentos. "Não podes estar a falar a sério, Daniel. Porquê tu?"
Daniel ergueu as mãos, e uma energia obscura começou a envolver os seus dedos. "O poder, Rui. A Irmandade oferece poder e conhecimento ilimitados. E agora, o Olho de Orion está ao nosso alcance."
Sofia ficou ao lado de Rui, os olhos a arder de fúria e traição. "Nunca confiaríamos em ti se soubéssemos," gritou ela. "Não vais levar isto."
A batalha recomeçou, desta vez com Daniel a revelar um poder que Rui e Sofia nunca tinham imaginado. O chão tremia, e as paredes da câmara pareciam estremecer com cada impacto. Rui, no entanto, sentiu uma renovada determinação. Não era só por ele ou por Sofia, mas por todos que dependiam deles.
Com um último esforço, Rui usou todos os seus dons. Uma explosão de luz clara e pura envolveu a câmara, e quando o brilho diminuiu, Daniel estava no chão, imóvel. A energia obscura desaparecera, deixando apenas o silêncio pesado do subterrâneo.
"Está feito," disse Rui, ofegante. "Acabou."
Sofia ajoelhou-se ao lado de Daniel, verificando se estava vivo. Suspirou de alívio ao perceber que ele respirava, embora fraco. Olhando para Rui, ela afirmou com convicção:
"Vamos manter o Olho de Orion seguro. E vamos assegurar-nos de que a Irmandade das Sombras não terá mais o que procura."
Com o coração pesado, mas cheios de esperança, Rui e Sofia deixaram a câmara, subindo de volta à superfície. A cidade de Lisboa esperava por eles, com seus segredos antigos e novas ameaças. Mas agora, com Rui aceitando finalmente os seus dons, sabiam que juntos poderiam enfrentar qualquer desafio que as sombras lhes apresentassem.