Segredos Antigos

A madrugada envolvia Lisboa num manto silencioso e melancólico, enquanto Rui e Sofia caminhavam lado a lado pelas ruas empedradas da cidade. Haviam passado a noite a estudar o manuscrito fornecido por Miguel e estavam finalmente prontos para procurar o último pedaço do puzzle: um antigo templo escondido no coração de Lisboa.

"Miguel disse que o templo foi construído pelos primeiros mestres do oculto em Lisboa," comentou Sofia, a voz baixa mas carregada de expectativa. "Será um lugar de poder imenso."

Rui assentiu, sentindo um misto de excitação e nervosismo. Sabia que, ao cruzarem essa porta, estariam a um passo de desvendar mistérios antigos e, possivelmente, a enfrentar perigos indescritíveis. Contudo, a sensação de dever e a necessidade de proteger aqueles que lhe eram queridos conduziam-no.

"Estamos perto," afirmou Rui, ao ver a inscrição descrita no manuscrito. Uma combinação de runas e símbolos que levava a um pequeno pátio, ladeado por prédios antigos que pareciam vigiar silenciosamente.

Ao entrarem no pátio, as luzes artificiais pareciam desvanecer-se, dando lugar a uma tranquilidade sombria. No centro, uma pequena escada de pedra conduzia a uma porta semi-oculta por videiras e musgo. Rui e Sofia partilharam um olhar determinado antes de descerem os degraus e adentrarem a escuridão, as mãos a segurarem lanternas de luz bruxuleante.

Lá dentro, o ar era pesado, impregnado com o cheiro de velas antigas e incenso queimado. O caminho à frente deles era ladeado por colunas decoradas com inscrições arcaicas, cada símbolo parecendo irradiar uma energia vibrante.

"Rui, olha isto," chamou Sofia, inclinando-se para observar uma inscrição particular numa das colunas. "Esses são os mesmos símbolos que vimos no manuscrito de Miguel. Estamos no lugar certo."

Avançaram mais, até chegarem a uma câmara ampla, cuja magnificência estava apenas parcialmente revelada pelas suas lanternas. No centro da câmara, uma gigantesca pedra angular assentava majestosamente, coberta de símbolos intrincados.

"O coração do templo," murmurou Rui, aproximando-se da pedra. "Estas inscrições devem revelar algo importante sobre o Olho de Orion."

Sofia começou a descodificar as inscrições, os dedos percorrendo os símbolos com um misto de precisão e reverência. Momentos depois, ela exclamou, os olhos iluminados pela descoberta.

"Rui, veja isto!" gritou ela, emocionada. "Estas inscrições falam de um ritual antigo. Um rito que permite localizar o Olho de Orion."

Rui aproximou-se, lendo ao lado de Sofia. As inscrições detalhavam um processo complexo, mas havia uma questão adicional que despertou a atenção de ambos. A inscrição referia-se a uma entidade, um guardião que protegia o Olho.

"Este guardião," disse Rui, pensativo, "parece ser a chave para entender a verdadeira natureza da nossa ameaça. Precisamos estar preparados."

Sofia assentiu e, com cuidado, tirou uma câmara digital do bolso, registando as inscrições para estudo posterior. Enquanto o faziam, Rui sentiu uma presença ao fundo da câmara, uma sensação que fez os pêlos da sua nuca se arrepiarem.

"Não estamos sozinhos," sussurrou ele, os olhos a procurarem na semi-escuridão.

De repente, uma figura surgiu das sombras, envolta em vestes escuras e uma energia opressiva. Os olhos brilhavam num tom azul intenso, reconhecível dos relatos das testemunhas.

"O que fazem aqui, mortais?" perguntou a figura, a voz ecoando pela câmara como um trovão distante.

Rui e Sofia instintivamente deram um passo para trás, mas Rui tomou a dianteira, tentando mostrar confiança.

"Estamos à procura do Olho de Orion," declarou, os olhos fixos na figura enigmática. "Precisamos dessa informação para impedir que caia nas mãos erradas."

A figura riu, um som gélido e mordaz. "Vocês são ousados. Mas o caminho para o Olho de Orion está cheio de desafios que nenhum mortal deve enfrentar. Mesmo assim, se estão determinados, terão de provar a vossa dignidade."

Com um gesto, a figura desapareceu, deixando uma sensação de vazio, mas as palavras flutuaram no ar como um desafio inquebrável. Rui e Sofia sabiam que estavam mais perto do que nunca, mas que também tinham que se preparar para o que viria a seguir.

"Temos de estudar estes rituais e nos preparar," disse ele, determinado. "Se o guardião é o que diz ser, então não podemos subestimá-lo."

Sofia concordou, a vulnerabilidade momentânea a dar lugar à sua habitual determinação. "Temos de continuar, Rui. Não podemos recuar agora."

Saíram do templo, o peso das descobertas a acompanhá-los. Caminharam para o Café Alfama, o lugar onde tudo começara e que agora se tornara a sua base de operações. Uma vez lá, sentaram-se em silêncio, absorvendo a magnitude do que tinham visto e sentido.

"Começo a perceber," disse Rui, finalmente, "que não posso fugir do meu passado. Talvez seja hora de aceitar os meus dons. Não só por nós, mas por todos aqueles que nos rodeiam."

Sofia sorriu ligeiramente, compreendendo a decisão de Rui. "Juntos, podemos enfrentar qualquer coisa. E sabes, nunca estamos sozinhos nisso. Sempre tive confiança em ti, Rui."

Rui sentiu uma onda de emoção varrer-lhe, a força da camaradagem e da antiga amizade a renovarem o seu espírito. Entregaram-se aos planos, estudando os rituais e preparando-se para a batalha que se avizinhava. As sombras de Lisboa tornavam-se mais densas, mas Rui e Sofia estavam prontos para enfrentar qualquer escuridão, decididos a proteger a cidade e a descobrir os segredos do Olho de Orion.

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