A noite envolvia Lisboa numa manta de escuridão mística, as luzes das ruas a desenhar sombras longas e sinuosas. Rui e Sofia, mantendo-se nas partes menos iluminadas da cidade, aproximavam-se da entrada que lhes fora indicada para o submundo de Lisboa. Ali, sob o manto da normalidade da superfície, escondia-se um mercado negro de artefactos mágicos, um labirinto de mistérios e perigos.
"Sentes isso?" perguntou Rui, a voz num sussurro, os sentidos alerta.
"Sim," respondeu Sofia, os olhos a brilhar com a excitação do desconhecido. "A magia aqui é palpável. Precisamos ser cautelosos."
Entraram por uma pequena porta lateral num beco mal iluminado, descendo por um conjunto íngreme de escadas. A cada passo, a atmosfera tornava-se mais opressiva, carregada de um sentimento de antiguidade e escuridão. Chegaram a um grande salão subterrâneo, onde inúmeras tendas e bancas estavam montadas, exibindo uma impressionante variedade de artefactos mágicos.
"É aqui," disse Rui, os olhos a absorver a cena. "Vamos procurar alguém que possa ajudar-nos."
Movendo-se com cautela pelo mercado, observaram as diversas ofertas: amuletos brilhantes, livros de feitiços em línguas antigas e objectos imbuidos de uma energia quase táctil. Finalmente, encontraram uma banca que parecia ser o centro de atenção de todos os visitantes. Atrás dela, um homem de meia-idade, vestindo um casaco surrado, sorria enigmaticamente para os possíveis compradores.
"Acho que é ele," murmurou Sofia. "Miguel, o comerciante de itens raros."
Rui assentiu e ambos aproximaram-se da banca. O homem levantou o olhar, os seus olhos um misto de curiosidade e suspeita.
"Posso ajudá-los?" perguntou Miguel, a voz profunda e cheia de nuances.
"Estamos à procura de informações sobre um artefacto chamado 'O Olho de Orion', disse Rui diretamente.
Miguel levantou uma sobrancelha, o sorriso a alargar-se. "Interessante," respondeu ele. "Não são os únicos à procura desse objecto. Venham, vamos falar num lugar mais reservado."
Guiados por Miguel, Rui e Sofia foram levados através de um labirinto de corredores, até chegarem a um pequeno escritório. O comerciante fechou a porta atrás deles e sentou-se numa cadeira de madeira antiga.
"O Olho de Orion," começou Miguel, os seus dedos tamborilando na mesa. "Um artefacto de imenso poder, capaz de ligar o nosso mundo a outros planos de existência. Mas aposto que já sabem isso."
"Sabemos o básico," respondeu Sofia. "Precisamos de informações mais concretas. Como encontrá-lo, como usá-lo."
Miguel inclinou-se para a frente, os olhos brilhando numa luz misteriosa. "Existe uma organização secreta, uma ordem antiga, que está desesperadamente à procura deste artefacto. Chamam-se A Irmandade das Sombras. Estão a recrutar gente para realizar rituais e procurar o Olho. Se vocês o querem, terão de ser mais espertos e rápidos do que eles."
"E você?" perguntou Rui, estreitando os olhos. "De que lado está nesta história?"
A pergunta fez Miguel rir, um som seco e sem humor. "Eu, caro amigo, estou apenas do lado do lucro. Informação e artefactos são a minha vida. Se precisam de ajuda para encontrar o Olho de Orion antes da Irmandade, posso ajudar... por um preço."
Sofia trocou um olhar com Rui antes de responder. "Quanto quer pelas informações?
Miguel fez uma pausa calculada, apreciando o momento. "Quero um favor em troca. Quando encontrarem o Olho, quero ser o primeiro a estudá-lo antes de qualquer outra pessoa. Depois podem fazer o que quiserem com ele."
Rui ponderou a oferta por um momento antes de acenar com a cabeça. "Temos um acordo. Mas primeiro, precisamos das informações."
Miguel levantou-se e foi até uma estante desorganizada, tirando um velho manuscrito empoeirado. Abriu-o na mesa e apontou para várias passagens repletas de símbolos e textos antigos.
"Aqui estão os rituais que foram usados originalmente para criar o Olho de Orion, explicou ele. "Eles também detalham os locais onde os fragmentos do artefacto foram escondidos. Juntar os fragmentos será o vosso maior desafio."
Enquanto Rui e Sofia estudavam as inscrições, Miguel acrescentou: "Lembrem-se, a Irmandade das Sombras está sempre à espreita. Eles não pararão até terem o Olho, e são muito mais perigosos do que qualquer outra coisa que tenham enfrentado."
"Agradecemos o aviso," disse Sofia, fechando o manuscrito cuidadosamente. "Vamos tomar todas as precauções necessárias."
Miguel sorriu de novo, desta vez mais sincero. "Boa sorte, então. Parece que estamos todos envolvidos num jogo perigoso."
Rui e Sofia deixaram o escritório, as suas mentes a fervilhar com a nova informação. Eles estavam um passo mais perto de desvendar o mistério do Olho de Orion, mas também sabiam que os perigos estavam apenas a começar a revelar-se.
De volta ao café Alfama, Rui e Sofia se sentaram para organizar as novas descobertas. A atmosfera pesada do mercado subterrâneo ainda pairava sobre eles, mas havia também um fio de esperança eletrizante.
"Temos um caminho a seguir, disse Rui, determinado. "Mas temos de nos preparar. A Irmandade das Sombras não vai facilitar as coisas."
Sofia assentiu, os olhos brilhando com uma nova determinação. "Vamos enfrentar o que for preciso, Rui. Esta é uma luta que não vamos perder."
Com o espírito de camaradagem renovado, Rui e Sofia deram os primeiros passos na sua jornada complexa, decididos a descobrir os segredos do Olho de Orion e a impedir que caísse nas mãos erradas. O destino de muitos estava nas sombras de Lisboa, e eles estavam prontos para enfrentá-lo.