O crepúsculo pintava os céus de Lisboa com tons de laranja e púrpura enquanto Rui e Sofia caminhavam pelas ruas estreitas, agora quase desertas. As primeiras paragens no seu itinerário eram locais onde ocorreram os desaparecimentos mais recentes, e ambos estavam atentos a qualquer sinal ou pista.
"Este é o beco onde o último desaparecimento foi registado," anunciou Sofia, detendo-se à entrada de uma viela particularmente sombria.
Rui olhou em volta, os olhos treinados a vasculhar cada recanto em busca de algo fora do comum. Apressaram-se a entrar na viela, onde as sombras eram mais densas, e o silêncio, quase sepulcral.
"Está mais quieto do que devia estar," disse Rui, olhando para Sofia. "Parece que até os gatos se afastam deste lugar."
Sofia agachou-se, os dedos traçando uma série de marcas no chão pedra. "Rui, olha isto," chamou ela, os seus olhos fixos nas gravuras esculpidas. "Parecem inscrições antigas. Alguma espécie de runas."
Rui ajoelhou-se ao lado dela, o coração a bater mais rápido. "Runas de contenção," disse ele em voz baixa. "Estas não são comuns. São utilizadas para prender... algo."
A troca de olhares entre eles foi breve, mas carregada de significado. Continuaram a inspecção, procurando em cada parede, em cada canto, evidências que pudessem lançar luz sobre o mistério. Passaram a manhã assim, saltando de um local de desaparecimento para outro, anotando meticulosamente cada pista encontrada.
Ao meio-dia, pararam numa pequena praça ensolarada. Sentaram-se num banco de madeira desgastado pelo tempo, rodeados de crianças que brincavam e turistas despreocupados.
"Há algo que todos estes locais têm em comum," disse Rui, mordendo o lábio inferior. "Além das runas de contenção, todos têm antigos símbolos ligados ao Olho de Orion."
Sofia assentiu. "E mais do que isso, há uma segunda ligação," acrescentou ela, mostrando a Rui um caderno de notas. "Todas as vítimas tinham alguma ligação ao estudo de artefactos históricos e mágicos. Ou eram académicos, ou coleccionadores, ou de algum modo envolvidos nesse mundo."
"Isso não pode ser coincidência," murmurou Rui, folheando as anotações de Sofia. "Mas por quê? O que estas criaturas ganham ao levar estas pessoas?"
Sofia olhou ao redor, certificando-se de que ninguém os ouvia. "Rui, acho que devemos considerar a possibilidade de que estas criaturas estão à procura de algo," disse ela em voz baixa. "Algo que estas pessoas possuíam... ou sabiam."
Rui franziu o cenho. Estava a começar a perceber a magnitude da complicação. Se fosse verdade, estavam a lidar não só com desaparecimentos, mas com uma caça ao tesouro mágico na sua cidade.
"Seja o que for, temos de encontrar uma pista que nos diga o propósito final destas criaturas," concluiu Rui, apertando o punho. "E descobrir quem ou o que está a comandá-las."
Ao longe, um sino tocava, assinalando a passagem das horas. Rui e Sofia levantaram-se do banco, a determinação nos seus passos renovada pela descoberta crucial. Continuaram a caminhada pelas ruas calçadas de Lisboa, o som das suas pegadas misturando-se com o murmurar da cidade.
Naquela tarde, visitaram uma biblioteca onde uma das vítimas passava grande parte do seu tempo. A bibliotecária, uma senhora idosa e gentil, os recebeu calorosamente.
"Lembro-me do professor Almeida," disse a mulher, a voz trémula de emoção. "Era um homem gentil, sempre à procura de livros sobre artefactos raros. Desapareceu tão misteriosamente quanto apareceu na minha vida."
Sofia fez algumas perguntas, tentando obter mais informações, enquanto Rui inspecionava as prateleiras e mesas onde o professor Almeida costumava sentar-se. Notou um livro aberto, sublinhado meticulosamente.
"Sofia, olha isto," chamou ele. "O professor sublinhou uma passagem sobre o Olho de Orion. Está aqui uma referência a um ritual antigo, que parece ser uma chave."
Sofia aproximou-se, os olhos a brilhar com expectativa. "Se conseguirmos decifrar este ritual, talvez possamos obter mais respostas," disse ela.
Com mais um mistério para desvendar, deixaram a biblioteca e seguiram para a próxima paragem: o museu onde outra vítima trabalhara. O curador do museu, um homem de meia-idade com ar cansado, os recebeu na entrada.
"Há algo estranho neste lugar desde que a investigadora desapareceu," confessou ele, levando-os a uma sala reservada ao estudo de itens mágicos. "Documentos sumiram e objectos foram de algum modo removidos sem explicação."
Rui e Sofia inspecionaram a sala meticulosamente, cientes de que estavam cada vez mais próximos da verdade. Encontraram mais inscrições, mais pistas entrelaçadas, confirmando que o Olho de Orion estava no centro de tudo.
Quando a noite caiu sobre Lisboa, Rui e Sofia voltaram ao Café Alfama, exaustos, mas motivados. Sentaram-se a uma mesa no fundo, longe de ouvidos curiosos, e começaram a organizar as suas descobertas.
"Rui," começou Sofia, olhando-o nos olhos. "Acho que está na hora de usares os teus dons. Precisamos saber mais sobre o Olho de Orion e o que estas criaturas estão a procurar. Podemos estar a lidar com algo muito mais perigoso do que imaginamos."
Rui ponderou a proposta, sentindo o peso da responsabilidade. Os dons que ele havia tentado deixar para trás eram agora a chave para resolver este enigma. Respirou fundo e assentiu.
"Vamos fazer isto," disse ele num tom decidido. "Vamos desvendar este mistério e impedir que mais pessoas desapareçam."
Sofia sorriu, agradecida e aliada. Juntos, continuariam a explorar as sombras de Lisboa, determinados a encontrar respostas e a enfrentar o sobrenatural. Enquanto organizavam o plano, o Café Alfama parecia acolher ainda mais a dupla, como se as paredes sussurrassem segredos antigos e aguardassem ansiosas pelo desfecho desta nova jornada.