O sol declinava lentamente sobre as estreitas ruelas de Alfama, lançando sombras longas e misteriosas que pareciam dançar ao ritmo suave da brisa do Tejo. Rui Fernandes, de avental atado à cintura, limpava as mesas do Café Alfama com a mesma precisão e atenção que outrora dedicara aos seus casos de investigação.
Enquanto terminava de limpar a última mesa, o sino sobre a porta do café tilintou, anunciando a entrada de uma nova cliente. Rui levantou o olhar e congelou por um momento. Era Sofia, a sua amiga de universidade e companheira de tantas aventuras. Não a via há anos.
"Sofia?" disse Rui, olhos arregalados e um misto de surpresa e alegria no rosto.
Sofia sorriu, revelando um conjunto de dentes brancos que contrastavam com o batom vermelho vivo. Aproximou-se de Rui e puxou uma cadeira.
"Rui, há quanto tempo!" exclamou ela, sentando-se.
Sentando-se em frente a Sofia, Rui tentou conter a avalanche de perguntas que lhe invadiam a mente. Mas a curiosidade venceu.
"O que te traz por aqui?" perguntou ele, tentando soar casual, mas sem esconder completamente a excitação na voz.
Sofia lançou-lhe um olhar profundo, como se estivesse a tentar decidir o quanto revelar. Depois de um momento de reflexão, decidiu-se.
"Rui, eu precisava de falar contigo," começou ela, assumindo um tom mais sério. "Há algo estranho a acontecer em Lisboa. Desaparecimentos misteriosos. E eu temo que possa haver forças sobrenaturais envolvidas."
Rui sentiu um arrepio subir-lhe pela espinha. O seu primeiro impulso foi rejeitar a ideia, afastar-se de tudo aquilo que lhe trouxesse de volta ao mundo que deixara para trás. Mas não consegui desviar o olhar dos olhos de Sofia, que agora estavam cheios de uma determinação inabalável.
"Desaparecimentos? Forças sobrenaturais?" repetiu ele, tentando processar a informação. "Tens a certeza disso?"
Sofia acenou afirmativamente. "Tudo aponta para isso. Sei que parece loucura, mas há padrões que não podem ser coincidência. Preciso da tua ajuda, Rui. Ninguém conhece Lisboa como tu conheces, e ninguém tem a tua experiência."
Rui recostou-se na cadeira, olhando fixamente para o teto do café. A sua mente estava num turbilhão, repleta de memórias do passado e de batalhas travadas contra o desconhecido. Abandonara aquele mundo por uma razão, mas agora, o apelo de Sofia fazia emergir algo no seu interior, algo que ele pensara ter enterrado para sempre.
"Não sei, Sofia," disse ele finalmente, com um suspiro pesado. "Deixei essa vida para trás."
Sofia inclinou-se para a frente, os olhos brilhando com uma intensidade feroz. "Rui, estas pessoas precisam da tua ajuda. Quando estivemos na universidade, prometemos proteger os inocentes das escuras forças do oculto. Não podemos simplesmente virar as costas."
O silêncio instalou-se entre eles enquanto Rui ponderava a sua resposta. Finalmente, ele cedeu. Um leve sorriso curvou os seus lábios, ao mesmo tempo cansado e resoluto.
"Muito bem, Sofia," disse ele, segurando-a pelo olhar. "Conta-me tudo. Onde começam os desaparecimentos?"
Sofia respirou fundo, aliviada, e começou a explicar em detalhes o que sabia. Conforme os minutos passavam, a escuridão do café parecia cerrar-se em torno deles, enquanto uma nova jornada se abria, repleta de mistérios e perigos que pairavam nas sombras de Lisboa.