Sofia vive numa colónia subterrânea, onde a luz solar é uma lembrança distante, perdida em histórias e sonhos. O cheiro do óleo e do metal era uma constante na sua vida, enquanto as ferramentas eram as suas companheiras mais fiéis. Todas as manhãs, ela descia para o ateliê, onde o som dos motores ecoava nas paredes frias, mas na sua mente, ela via um céu azul, repleto de nuvens brancas e o calor do sol. O céu era tudo o que ela desejava, uma lembrança constante do que a humanidade tinha perdido.
Nesta manhã em particular, o dia parecia cinzento. A habitual conversa animada entre os colonos foi quebrada por um grito estridente que ecoou pelo corredor. Sofia levantou-se de um um pequeno banco onde estava a trabalhar. "O que foi isso?" perguntou, as suas mãos manchadas de graxa parando abruptamente.
Um grupo de pessoas correu na sua direção, e no meio da confusão, ela reconheceu o rosto pálido de Miguel, um dos seus amigos mais próximos. "Sofia! É o Rui... ele teve um acidente na linha de montagem!" A voz de Miguel estava carregada de pânico.
"O que?!" exclamou Sofia, o coração a acelerar. “Preciso de ver isso.”
Ela e Miguel correram pelos corredores escuros, passando por portas de metal enferrujadas e paredes cobertas de tubulações. Ao chegarem, uma pequena multidão já se tinha reunido em volta de uma plataforma. O corpo de Rui estava estendido no chão, rodeado por uma poça de sangue. Sofia sentiu uma onda de náusea e desespero. "Rui!” gritou, caindo de joelhos ao seu lado. "Por favor, acorda!"
Mas as palavras ecoaram vazias, e o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Após a tragédia, Sofia sentou-se sozinha no seu atelier, as lágrimas a escorrem pelo rosto. "Porquê, Rui? Porquê?" sussurrou. Era como se o peso do mundo tivesse caído sobre os seus ombros. O sonho do céu, uma vez tão vívido, agora parecia uma promessa quebrada. O que estava a fazer ali, num lugar onde a vida era tão efémera?
Naquele momento, uma determinação começou a crescer dentro dela. "Não pode ter sido em vão," pensou Sofia, limpando as lágrimas com o dorso da mão. "Eu preciso de descobrir mais sobre o mundo lá fora. Há algo que precisamos de restaurar.”
Hor os dias passaram, mas a perda de Rui continuava a ser uma sombra na sua mente. A colónia estava cheia de rumores sobre o mundo exterior, histórias de um passado esquecido. O que teria acontecido lá fora? O que poderia estar à espera? Com cada dia que passava, o seu desejo de fugir daquela vida subterrânea crescia, impulsionando-a a procurar as respostas que ninguém se atrevia a questionar.
Com um novo objetivo, Sofia começou a investigar os arquivos da colónia, repletos de diagramas e informações sobre a antiga tecnologia humana. "Talvez exista uma forma de trazer de volta o que perdemos," pensou, estudando cada documento, cada imagem, recordando as velhas histórias que ouvira da sua avó sobre o céu.
Naquela exploração, Sofia percebeu que a esperança poderia ser uma arma poderosa, uma ferramenta que poderia unir as pessoas e trazer à tona um futuro mais brilhante. "Se eu conseguir, se eu descobrir como, poderei mudar tudo," murmurou para si mesma, sem saber que esse desejo despertaria não apenas a esperança na sua colónia, mas também a cobiça de outros que, como ela, anseiam pelo que houve antes.
Agora, com a imagem do céu a brilhar intensamente na sua mente, Sofia estava pronta para enfrentar o desconhecido. "Eu vou descobrir a verdade sobre o mundo exterior," afirmou em voz alta, a determinação a irromper dentro dela.