Uma Viagem ao Passado

Sofia sentou-se à mesa, rodeada pelos investidores que há pouco tempo tinham revelado as suas intenções nebulosas. O ambiente era estranhamente carregado, como se o ar estivesse impregnado de tensão e expectativa. Ela olhou para Pedro, o colega cientista que tinha partilhado as suas reservas, e sentiu um nó no estômago. A viagem para o passado estava prestes a começar, mas o que poderiam realmente esperar dela?

"Sofia, estás pronta?", perguntou Pedro, a preocupação estampada no rosto.

"Não sei, Pedro. E se algo correr mal? O passado é uma tapeçaria intrincada, e qualquer alteração pode ter repercussões que nem conseguimos imaginar.", respondeu ela, a voz ligeiramente tremula.

Os investidores riram-se, talvez do nervosismo de Sofia, ou da maneira como ela enfatizava a gravidade da situação. Um deles, um homem alto com um sorriso enigmático, interveio:

"Não te preocupes, Sofia. Estás a pensar demasiado. Temos as ferramentas certas e a estratégia delineada. Apenas segue o plano e tudo correrá bem."

A tensão aumentou enquanto a máquina de viagem no tempo zumbia suavemente, pronta para transportar todos eles a um momento crucial da história que escolheram. Sofia apertou os lábios, lutando contra os seus receios.

"Espero que estejamos a fazer a coisa certa", murmurou ela, mais para si mesma do que para os outros.

Com um sinal dos investidores, todos se aproximaram da máquina. O estômago de Sofia revirou-se enquanto sentia que o chão sob os pés se desvanecia, e a realidade à sua volta começava a distorcer-se.

Num instante, estavam em pé numa praça movimentada, rodeados por pessoas que pareciam completamente alheias à sua presença. Os edifícios antigos refletiam uma época que Sofia apenas vira em livros de história. Ela olhou para Pedro, que observava os seus arredores com uma mistura de admiração e temor.

"Isto é impressionante", sussurrou Pedro, "mas o que, exactamente, estamos aqui a fazer?"

Os investidores começaram a conversar entre si, discutindo a melhor maneira de intervir naquele momento. Sofia sentiu-se deslocada, como se não estivesse verdadeiramente ali. A ideia de manipulação, a ideia de alterar algo tão precioso como a história, pesava-lhe na consciência.

"Precisamos de nos mover rápido", disse um dos investidores, visivelmente ansioso. "Se queremos que o nosso plano resulte, precisamos de garantir que o resultado seja exatamente o que desejamos."

Sofia pensou nas implicações do que estavam prestes a fazer. "Nós não podemos alterar o curso da história como se pudéssemos mudar um pequeno detalhe num projeto de investigação!", exclamou, a paixão na voz.

Os investidores, no entanto, mantinham-se firmes nas suas intenções. "Se não o fizermos, outros farão. E não haverá como controlar o que acontecerá depois," retorquiu o homem alto.

Enquanto eles discutiam fervorosamente, Pedro aproximou-se de Sofia. "Estás bem?", perguntou, os olhos cheios de preocupação.

"Não, não estou. Este não é o caminho correto. Se alterarmos o que aconteceu, poderemos abrir uma caixa de Pandora que não conseguimos fechar," disse ela, a voz tremendo.

Pedro acenou com a cabeça, compreendendo a gravidade da situação. "Sabes que eu também não sou a favor disto. Mas o que podemos fazer agora?"

Enquanto a discussão dos investidores se intensificava, Sofia decidiu que precisava de agir. O peso da sua decisão sobre o que era correcto ou não tornou-se insuportável. Com determinação, subiu ao centro da praça, chamando a atenção de todos. "Ouçam!", gritou. "Não podemos continuar com isto! O passado é mais complexo do que imaginamos e pequenas mudanças podem ter consequências devastadoras. Precisamos de uma estratégia mais ética."

Os investidores ficaram em silêncio, alguns chocados com a ousadia de Sofia. O passado, de repente, não parecia apenas uma sequência de eventos, mas uma teia intricada onde cada fio tinha a sua importância.

No fundo, Sofia sabia que a sua voz poderia ser a única a travar uma catástrofe que nem eles conseguiriam antecipar.

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