Um Encontro Inesperado Ecos de um Primeiro Amor

O primeiro dia de aulas sempre tem um misto de nervosismo e excitação. Ana estava a caminhar pelos corredores do novo liceu, segurando os livros contra o peito, tentando não se perder na multidão de rostos desconhecidos. À medida que se aproximava da sala de aula, ouviu a voz do professor ecoar pelo corredor.

"Bom dia a todos, encontrem os vossos lugares e preparem-se para a apresentação de grupo." O professor sorria e apontava para o quadro interativo onde um esquema detalhava os grupos e temas atribuídos.

Ana consultou rapidamente a lista e encontrou o seu nome ao lado de outro – Miguel. Com uma pontada de curiosidade e ansiedade, olhou em volta procurando o rosto que correspondia ao nome. Foi nesse momento que os seus olhos cruzaram com os dele.

Miguel tinha um sorriso caloroso e olhos castanhos profundos que a fizeram sentir um calor súbito no peito. Ele levantou-se e aproximou-se dela com um cumprimento.

"Olá, és a Ana, certo? Sou o Miguel. Parece que vamos ser parceiros."

Ana tentou esconder o nervosismo com um sorriso.

"Sim, acho que sim. Prazer em conhecer-te, Miguel." As suas mãos estavam trémulas, mas ele parecia não reparar.

Passaram o resto do tempo antes da apresentação a conversar sobre o tema que tinham de trabalhar: Literatura Contemporânea.

"Tens algum autor preferido?" Perguntou Miguel, interessado.

"Sempre gostei de José Saramago," respondeu Ana com um brilho nos olhos. "A maneira como ele utiliza as palavras é simplesmente... mágica."

O olhar de Miguel suavizou-se, um ligeiro sorriso apareceu nos seus lábios.

"Isso é incrível. Saramago também é um dos meus favoritos. Sabias que ele nunca usava pontuações normais?" Ele olhou para ela com um ar desafiador, esperando a sua reação.

Ana riu e respondeu entusiasmada.

"Sim, é uma das razões pelas quais gosto tanto dele!" Foi naquele momento que Ana sentiu algo diferente. Uma conexão que parecia tão fácil e natural, tão inesperada. Era quase como se ele conseguisse ver além da façanha exterior e entendê-la de um jeito que ninguém nunca tinha feito antes.

Quando chegou a hora da apresentação, Ana sentiu as palmas das mãos suadas, mas a presença de Miguel ao seu lado dava-lhe uma estranha sensação de que tudo ia correr bem. E correu. A química entre ambos era palpável e os seus colegas notaram.

Depois da aula, já fora da sala, Miguel olhou para Ana com um sorriso tímido.

"Foi divertido, não achas? Sabes, cheguei recentemente a esta vila e estava preocupado em não fazer amigos. Mas acho que me enganei."

Ana sorriu, sentindo o coração bater mais rápido. Nunca tinha sentido uma ligação assim antes.

"Acho que estamos no mesmo barco. Também sou nova aqui e estava preocupada com o primeiro dia. Quem diria que ia correr tão bem?" A honestidade de Miguel, a sua vulnerabilidade ao revelar a inquietação sobre não fazer amigos, tocou-a profundamente.

À medida que os dois caminharam para fora do edifício, a conversa fluía naturalmente. Ana sentia uma mistura de ansiedade com excitamento, mas de uma maneira que nunca tinha experimentado.

"Sabes," disse Miguel enquanto se afastavam da escola, "acho que vamos conseguir criar algo especial neste projeto."

Ana olhou para ele e algo dentro dela disse que tinha razão. Talvez fosse o começo de algo mais do que apenas um projeto escolar. Afinal, às vezes, as melhores ligações surgem nos momentos mais inesperados.

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