A nova amizade entre Ana e Miguel crescia com cada dia que passava. Todos os dias, após as aulas, reuniam-se na biblioteca para trabalharem no seu projeto sobre Literatura Contemporânea. As horas passavam numa mistura de pesquisa, risos e conversas profundas que faziam com que ambos se sentissem mais próximos.
"Então, Ana," começou Miguel numa tarde tranquila, enquanto vasculhavam livros na secção de autores portugueses, "sempre gostaste de escrever?"
Ana olhou para ele, um pouco surpreendida pela pergunta. Ela não falava muito sobre o seu sonho de ser escritora, por medo de ser ridicularizada.
"Sim," respondeu, hesitante. "Desde pequena. Sempre achei fascinante a forma como as palavras podem criar mundos e transmitir emoções. Até comecei a escrever alguns contos, mas nunca mostrei a ninguém."
Miguel sorriu encorajadoramente.
"Gostaria muito de ler algum dos teus contos." A sua voz era sincera, e isso deu a Ana uma confiança inesperada.
"Talvez um dia..." disse Ana, envergonhada, mas com um brilho de esperança nos olhos.
Concentraram-se novamente nos livros, mas aquela pequena revelação tinha aproximado ainda mais os dois. Ana sentia-se quente e segura na companhia de Miguel, algo que nunca tinha sentido com outras pessoas.
"E tu, Miguel," perguntou Ana, tentando mudar de assunto, "tens algum sonho que queres seguir?"
Miguel pausou, pensativo.
"Gosto de música. Toco guitarra desde pequeno e sempre quis formar uma banda. Mas, sinceramente, nunca tive a coragem de tocar para um público grande. Acho que tenho medo de falhar."
Ana olhou para ele, vendo pela primeira vez a vulnerabilidade por trás da sua confiança habitual.
"Acho que deves seguir o teu sonho, Miguel. Tens uma paixão verdadeira e isso é algo raro. Nunca deixes o medo impedir-te de fazer algo que amas."
Miguel sorriu, sentindo-se compreendido como nunca. Haviam construído, num espaço de tempo tão curto, uma ligação genuína e única.
À medida que os dias passavam, a biblioteca tornou-se o refúgio deles. Conversavam sobre os temas do projeto, mas também sobre os sonhos, medos e o que os fazia felizes. Sentiam-se compreendidos, aceitavam-se incondicionalmente. Um dia, enquanto discutiam um texto de Saramago, Ana fez uma pausa e olhou para Miguel com um sorriso suave.
"Sabes," começou ela, "este projeto tornou-se muito mais do que uma simples tarefa escolar para mim. Sinto que estou a conhecer alguém que realmente me entende."
Miguel segurou a mão dela suavemente.
"Sinto o mesmo. É estranho, mas é como se nos conhecêssemos há muito tempo."
Ana sorriu, sentindo uma calorosa tranquilidade invadir-lhe o coração. Aquele momento de cumplicidade silenciosa entre os dois foi interrompido pelo toque de saída da biblioteca.
"Acho que devemos ir," disse Ana, relutante em quebrar a magia do momento.
Enquanto arrumavam os materiais, Miguel olhou para Ana com uma expressão determinada.
"Sabes, Ana, estava a pensar. E se tentássemos escrever algo juntos? Algo que combinasse a tua paixão pela escrita e o meu gosto pela música? Pode ser uma pequena história, talvez com letras de músicas intercaladas. O que achas?"
A ideia deixou Ana surpreendida, mas também extremamente animada.
"Adoraria isso, Miguel! Acho que seria uma experiência incrível e podíamos partilhar algo realmente especial."
Com um entusiasmo renovado, saíram da biblioteca, discutindo ideias sobre o novo projeto. A ligação que sentiam parecia crescer e aprofundar-se com cada momento que passavam juntos. Estava claro para ambos que a amizade que tinham firmado era apenas o início de algo muito maior. Algo que tinha o potencial de ser tão poderoso e mágico quanto qualquer história que pudessem escrever.
A avenida em frente ao liceu estava a esvaziar-se e ambos caminharam em direção às suas casas, já ansiosos por se encontrarem na próxima tarde.
"Até amanhã, Ana. Mal posso esperar para ver o que criaremos juntos." Miguel disse com um sorriso, antes de se despedirem.
"Até amanhã, Miguel." Ana respondeu, sentindo o coração bater mais forte, antecipando o que o futuro lhes reservava.
Com cada passo que davam, a nova jornada de amizade e talvez algo mais, estava só a começar.