Francisco respirou fundo, deixando o ar fresco e húmido da manhã invadir os seus pulmões. A pequena aldeia de Valenora estendia-se à sua frente, envolta em uma neblina suave que transformava cada canto em um cenário de conto de fadas. As árvores, altas e imponentes, pareciam sussurrar segredos de tempos passados, como se estivessem guardando histórias que há muito desejavam comunicar. Caminhando pelas ruas de pedra, cada passo ecoava com a sensação de que cada pedra e cada sombra estavam carregadas de uma história esquecida.
Após alguns minutos de exploração, encontrou a pousada local. O edifício, antigo e acolhedor, exibia fachadas de madeira ornamentadas e janelas com vidros manchados. Ao entrar, um leve cheiro de madeira envelhecida e couro tomou conta do ambiente. O olhar da recepcionista, uma senhora idosa com cabelos grisalhos presos num coque desfeito, encontrou o seu. Ela parecia estudá-lo, o que aumentou a sensação de desconforto que já o acompanhava desde a sua chegada à aldeia.
‘Bem-vindo, jovem arqueólogo’, ela murmurou, como se soubesse do que ele viera fazer. ‘Aqui, em Valenora, as coisas nem sempre são o que parecem.’
Francisco tentou desviar o olhar do instante de tensão e fez um breve sinal de agradecimento. Finalmente, entregou os documentos necessários e recebeu a chave de um quarto que, de acordo com a mulher, era o mais “aconchegante” da casa.
Assim que se instalou, decidiu explorar o lugar. A atmosfera carregada de mistério o instigava, e a curiosidade o impulsionava a conhecer as lendas que habitavam aquelas ruas. Ao passear pelos arredores, uma livraria antiga chamou sua atenção. As prateleiras estavam cobertas de poeira, mas cada livro parecia contar uma história própria. Ele percorreu as estantes, seus dedos suaves deslizando sobre as lombadas desgastadas, até que uma capa de couro marrom se destacou. O título, embora desbotado, ainda era legível: "Ecos do Passado".
Sem hesitar, abriu o livro. As páginas estavam repletas de anotações e relatos sobre o sítio funerário que ele pretendia investigar. Os olhos de Francisco brilharam com entusiasmo ao descobrirem referências a rituais antigos e a alguns personagens que pareciam ressoar com a própria história da aldeia. Mas o mais intrigante foi um relato em particular, sobre a misteriosa tragédia que havia ocorrido há muitos anos, envolvendo figuras centrais na vida da aldeia, como se o destino deles ainda ecoasse nas vivências dos habitantes atuais.
No meio da leitura, sua mente borbulhava com ideias e teorias, quando, subitamente, decidiu recitar uma passagem que capturou sua imaginação:
‘Os ecos do passado nunca se encontram longe dos vivos. Estão sempre presentes, como sombras que dançam à volta do fogo.’
Imediatamente, ele sentiu uma brisa gélida atravessar o local. Um sussurro distante envolveu-o, chamando seu nome, uma voz quase inaudível, mas inegavelmente conhecida nas arvores, e ele franziu a testa, sentindo um arrepio percorrer-lhe a espinha. O que era aquilo? Um truque da sua mente? Uma simples ilusão provocada pelo peso daquelas páginas cheias de mistérios?
Mas Francisco sabia que, naquelas terras, nada era tão simples assim. Algo o aguardava. Ele tinha que descobrir, e, mais importante, precisava estar preparado para o que fosse encontrar.