Confronto sobrenatural

O sol começava a desaparecer por trás das colinas, lançando uma luz dourada e suave sobre Valenora. Francisco estava decidido. A neblina que dançava à volta das árvores parecia convocá-lo àquele local sagrado, onde os ecos do passado prometiam revelar verdades ocultas. Ele preparou-se para o ritual, reunindo os artefactos que havia encontrado: o medalhão da jovem acusada de bruxaria, uma vela branca e um pequeno altar improvisado feito de musgo e pedras.

Enquanto se dirigia ao sítio funerário, o coração batia-lhe descompassado, mas havia uma determinação renovada dentro dele. “É hora de libertar estas almas”, murmurou para si mesmo, lembrando das visões que o assombravam. Ao chegar ao local, Francisco sentiu a energia pulsante do lugar, como se a própria terra estivesse viva e a sussurrar-lhe segredos.

As árvores cercavam-no, como se também elas fizessem parte daquela cerimónia, protegendo-o com a sua presença imponente. Ele acendeu a vela, olhando para o medalhão, que brilhava à luz tremeluzente. “Se estás aqui, meu amor, ouve-me. Venho em busca de paz para ti e para aqueles que sofreram”, começou ele, a voz forte e clara.

A atmosfera torna-se densa e palpável, e Francisco sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. “Espíritos que permanecem na dor, venho em busca da vossa história. Não temais, pois desejamos compreender”, pediu, invocando as almas que há muito tempo estavam presas àquele lugar.

Foi então que as sombras começaram a dançar à sua volta, as formas indistintas de almas antigas aproximando-se, como se escutassem as suas palavras. Francisco olhou ao redor, vendo os rostos dos aldeões que observaram à distância. Decidiu que era hora de os envolver. “Venham! Juntos, podemos libertá-los. O que aconteceu aqui é parte de nós!” exclamou, esperança na voz.

Alguns aldeões começaram a avançar, relutantes ainda, mas os olhos de Francisco brilhavam com uma determinação que parecia contagiar. Ele conduziu-os numa circunferência ao redor do altar, as mãos erguidas para o céu, e juntos começaram a recitar os nomes dos que tinham sido injustamente silenciados.

No âmago do ritual, uma onda de energia percorreu o ambiente, como um choque de relâmpagos, a terra a tremer no seu esplendor. Francisco sentiu uma presença poderosa à sua volta, a neblina a espessar-se ainda mais. E nesse momento, uma voz ecoou no ar, clara e profunda: “Por que tipo de traição viestes aqui?”

A pergunta passou como um sussurro entre os presentes. Francisco decidiu não hesitar. “Estamos aqui para libertar as almas que sofram. A verdade precisa vir à luz!”

As almas começaram a aparecer, uma por uma, revelando-se em visões perante os aldeões atónitos. Entre elas, uma figura assombrosa tomou forma, a jovem que ele havia visto nas suas visões. “O sangue destes inocentes clama por justiça”, disse ela, a voz cheia de dor. “Um de vós”, apontou ela, “foi o traidor que me acusou. O medo que ecoa na aldeia é o medo dele.”

A revelação caiu como um veneno. Francisco, agora mais do que nunca, precisava da coragem dos aldeões. “Esta alma tem razão. É hora de nos confrontarmos com o nosso passado. Sei que temos medo, mas juntos podemos quebrar este ciclo de dor”, disse ele, segurando o medalhão com determinação.

Os rostos dos aldeões mostraram-se confusos, mas havia algo mais — um brilho de esperança. “A verdade nos libertará”, murmurou uma mulher na multidão, fazendo com que outros a apoiassem. O sentimento de unidade começou a formar-se, e juntos todos começavam a sentir que aquele poderia ser o momento de mudar a história de Valenora.

Enquanto o ritual prosseguia, a jovem começou a desaparecer, mas não antes de sussurrar: “A verdade vem, e com ela, a paz.” É nesse momento que uma verdade devastadora foi revelada: havia um traidor entre eles. Francisco olhou em volta, percebendo que o verdadeiro confronto estava apenas a começar.

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