Primeiras Pistas

Beatriz estacionou o carro em frente à casa dos Nogueira, ainda com fitas de isolamento da polícia. A rua estava calma, contrastando com a agitação da sua mente. Sabia que cada detalhe podia ser crucial. Ao sair, respirou fundo e aproximou-se da entrada.

A porta da frente estava levemente entreaberta, aparentemente esquecida pela última pessoa que saiu. Beatriz entrou com cuidado, inspeccionando cada canto. A sala de estar parecia intocada desde a noite do crime. Ainda havia marcas de sangue no chão, uma visão perturbadora.

"Aqui istó onde Ricardo encontrou Leonor.", murmurou para si mesma, tentando visualizar a cena. Andou pela sala, observando os móveis e objetos pessoais. Notou algo interessante: uma pequena estante com livros parcialmente caídos, como se houvesse uma luta.

Aproximou-se, e ao inspecionar mais de perto, viu uma folha de papel amassada por baixo dos livros. Pegou nela e leu as palavras escritas à pressa: "Encontro marcado, mesmo lugar. Não falhes."

"O que significa isto?", pensou em voz alta. Guardou o papel no bolso, decidida a investigar a pista mais tarde. Continuou a sua inspeção pela casa.

No quarto, notou algo que a polícia claramente tinha deixado passar: um fio de cabelo longo e escuro preso a um dos travesseiros. Leonor tinha o cabelo loiro. Quem poderia ter deixado aquilo ali?

Mais uma vez, colocou o fio num saquinho de provas, consciente da sua importância. Depois de verificar cada divisão da casa e encontrar mais alguns detalhes mínimos, Beatriz sentiu que tinha um melhor entendimento do que poderia ter acontecido. Mas ainda faltavam peças no puzzle.

Decidiu falar com os vizinhos. Bateu à porta da casa ao lado, onde uma senhora idosa atendeu.

"Boa tarde. Sou Beatriz Rocha, advogada de defesa. Estou a investigar a morte de Leonor Nogueira. Podemos falar?", perguntou com um sorriso caloroso.

A senhora, olhando-a com uma mistura de curiosidade e cautela, acenou.

"Ente, ente. Sou a D. Maria. Pois, eu estava em casa aquela noite."

Beatriz sentou-se ao lado de D. Maria, pegando um bloco de notas.

"Viu ou ouviu alguma coisa fora do normal naquela noite?", começou ela.

A idosa franziu a testa, pensativa.

"Ouvi-os a discutir. Mas isso não era incomum. Sempre discutiam ao anoitecer. Mas naquela noite, a discussão parecia mais séria."

"Vi alguém, depois.", continuou a senhora.

Beatriz inclinou-se para a frente, interessada.

"Quem? Quem viu?"

"Um homem, de qualquer modo. Dirigia um carro preto, creio eu. Não o reconheci, mas parecia estar com pressa.", disse D. Maria.

A menção do carro preto prendeu a atenção de Beatriz. Outra ligação a Ricardo mencionara. Agradeceu à senhora e foi bater à outra porta, duas casas abaixo.

Um homem de meia-idade, com cabelo desgrenhado, atendeu.

"Sim?", perguntou ele.

"Sou Beatriz Rocha, advogada de defesa no caso da morte de Leonor Nogueira. Posso fazer-lhe algumas perguntas?"

O homem inclinou a cabeça, pensativo.

"Claro. Sou o Manuel. Ente, sinta-se à vontade."

Beatriz seguiu-o até à sala de estar e começou o seu interrogatório habitual.

"Alguma vez notou algo suspeito na casa dos Nogueira, Manuel? Alguém visitando-os frequentemente ou qualquer coisa fora do comum?"

Manuel coçou o queixo.

"Na verdade, sim. Ouvi Leonor a discutir ao telefone com alguém nos dias antes de ela morrer. Parecia preocupada."

Mais uma pista sobre os telefonemas estranhos. Beatriz anotou tudo cuidadosamente.

"E na noite do crime? Viu algum movimento incomum?", perguntou.

"Bem, notei um carro a sair rapidamente da rua. Acho que pode ser esse carro preto novamente. Além disso, notei que as luzes da casa se apagaram e depois se acenderam novamente, como se alguém estivesse a mover-se pelo interior."

Beatriz agradeceu a Manuel e saiu da casa com uma sensação mista. Tinha recolhido várias informações contraditórias, mas um tema comum começava a emergir: o carro preto e os telefonemas misteriosos. Essas eram chaves para desvendar o enigma.

De regresso ao carro, Beatriz sentiu uma renovada determinação. Sabia que havia mais a descobrir, e não ia descansar até desenterrar toda a verdade.

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