Beatriz respirou fundo enquanto se dirigia pelas longas e sombrias instalações da prisão central da cidade. O som das portas de metal ecoava, cada estalo aumentando a tensão que sentia. Porém, a determinação de encontrar a verdade mantinha-a firme. Quando finalmente chegou à sala de visitas, Ricardo estava já sentado à mesa, com as mãos pousadas à sua frente, olhando-a com uma mistura de alívio e desespero.
"Beatriz, obrigado por vires.", disse Ricardo, a voz tremendo ligeiramente.
Ela acenou, sentando-se à sua frente.
"Ricardo, estou aqui para te ajudar, mas preciso de saber exatamente o que aconteceu. Conta-me tudo, sem omitir nada.", respondeu ela, olhando-o fixamente nos olhos.
Ricardo assentiu, respirando fundo.
"Tudo começou há cerca de dois meses.", ele começou. "Notei que a Leonor estava diferente, mais reservada. Perguntei-lhe várias vezes se estava tudo bem, mas ela sempre dizia que sim, que estava apenas ocupada com o trabalho."
Beatriz ouviu atentamente, sem interromper.
"Há uma semana, encontrei um extracto bancário no correio. Nunca tínhamos segredos financeiros, e foi aí que percebi que algo estava errado. Confrontei-a imediatamente.", continuou.
"O que descobriste, Ricardo?", perguntou Beatriz, inclinando-se ligeiramente para a frente.
Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo.
"Havia transacções estranhas, grandes quantias a sair da nossa conta para uma conta que eu desconhecia. Quando perguntei a Leonor sobre isso, ela ficou furiosa. Disse-me para deixar o assunto e que estava a tratar de algo importante."
Beatriz estreitou os olhos.
"E depois? O que aconteceu naquela noite em particular?", pressionou ela.
Ricardo engoliu em seco.
"Tivemos uma discussão acalorada. Ela disse que estava a resolver um problema e que era para nosso próprio bem. Mas eu não conseguia entender. Estava tão frustrado e confuso. Saí de casa furioso para dar uma volta e quando voltei... ela já estava morta." A voz dele quebrou no final.
Beatriz manteve-se em silêncio por um momento, processando o que ele dissera.
"Ricardo, viste alguém suspeito? Alguém que pudesse querer fazer mal a Leonor?", perguntou ela finalmente.
Ricardo abanou a cabeça lentamente.
"Não, Beatriz, não vi ninguém. Cheguei a casa, a porta estava destrancada, e encontrei-a no chão da sala. Havia sangue por todo o lado... Foi horrível.", disse ele, os olhos cheios de lágrimas.
Beatriz sentiu um aperto no peito ao ver a dor no rosto do seu amigo. Mas algo na história dele não parecia encaixar perfeitamente. Decidiu investigar mais a fundo.
"Ricardo, preciso que te lembres de todos os detalhes, mesmo os mais insignificantes. Alguém poderia ter seguido Leonor? Uma testemunha, um estranho, qualquer coisa.", insistiu ela.
Ele fechou os olhos por um momento, tentando recordar.
"Houve uma coisa... Uma vez notei um carro preto estacionado perto de nossa casa, mas achei que fosse coincidência. E Leonor recebeu um telefonema estranho alguns dias antes de tudo acontecer, mas não falava muito durante a chamada e parecia nervosa depois.", disse ele, levantando uma sobrancelha.
Beatriz ponderou sobre esta nova informação. Um carro preto, um telefonema estranho... Pistas, mas insuficientes. Ela precisava de mais provas.
"Vou investigar isso, Ricardo. Mas preciso que confies em mim e me conte sempre tudo, por mais irrelevante que pareça.", afirmou ela com determinação.
Ricardo assentiu, visivelmente mais calmo por ter alguém a ajudá-lo. Beatriz levantou-se, pronta para sair, mas antes de se afastar, fez-lhe uma última pergunta.
"Ricardo, estás a dizer-me toda a verdade? Não me estás a esconder nada, certo?", perguntou ela, olhando-o fixamente.
Ele hesitou por um instante, antes de responder.
"Estou, Beatriz. Juro que estou."
Beatriz saiu da prisão com uma sensação de inquietação. Algo no depoimento de Ricardo ainda parecia incompleto, mas a expressão dele transmitia sinceridade. Decidida, ela sabia que não podia confiar apenas nas palavras do seu amigo. Precisava de provas concretas.
Já no carro, revisou mentalmente todos os detalhes enquanto dirigia para o escritório. Ricardo podia estar a esconder algo, talvez sem intenção. E aquele telefonema, o carro preto, eram pistas que tinha de seguir.
As próximas horas seriam essenciais. Ela sentiu a responsabilidade do caso como um peso nos ombros, mas também a adrenalina que a impulsionava. Este era o início de uma investigação que iria fundo na psique humana, nos segredos e mentiras. Beatriz estava determinada a descobrir a verdade, custasse o que custasse.