O peso do pesadelo ainda estava presente na mente de Clara quando acordou. Era uma noite sem luz, apenas a fraca claridade das luzes fluorescentes do laboratório a rodeavam. Com os olhos pesados, ela sentou-se na cama, tentando afastar a sensação de desespero. O sonho tinha sido vívido, repleto de rostos desconhecidos e fragmentos de memórias que fugiam dela, como folhas levadas pelo vento. Sentia que algo crucial lhe tinha sido tirado, mas não conseguia identificar o quê.
Enquanto se preparava para o longo dia de trabalho, Clara contemplava o seu reflexo no espelho. A mulher que ali via não parecia ser a mesma que entrara no laboratório semanas atrás. Havia uma determinação na sua expressão, mas também marcas de um conflito interno. Era como se a sua própria identidade estivesse à mercê de forças invisíveis. "Quem sou eu de verdade?", murmurou consigo mesma.
Com um suspiro profundo, Clara saiu do quarto e dirigiu-se para o laboratório. O ambiente estava impregnado com o cheiro a produtos químicos e um leve zumbido dos dispositivos que rodeavam a sala. O projeto 'Refletor' ocupava os seus pensamentos, mas a ideia de manipular memórias alheias agora a atormentava. "O que mais estou disposta a sacrificar para descobrir a verdade?"
No laboratório, Clara chamou Pedro, o líder do grupo clandestino a que se juntara. Ele era a única pessoa que sentia ser capaz de compreender o que se passava dentro dela. "Pedro, preciso de ajuda," disse ela, a voz quase vulnerável.
Pedro aproximou-se, os seus olhos escuros perscrutando a expressão dela. "O que foi que te perturbou desta vez?" questionou, com uma voz suave, mas firme.
Clara hesitou, tentando encontrar as palavras certas. "Os meus sonhos... Eles estão a tornar-se cada vez mais reais. Sinto que há algo que perdi, e estou determinada a descobrir o que é."
"Os sonhos podem ser traiçoeiros," respondeu Pedro, reconhecendo a luta que Clara enfrentava. "Mas se sentes que isso é importante, não devias ignorar. Podemos investigar juntos."
Ela sentiu um impulso de gratidão pela oferta, mas também pelo feroz desejo de enfrentar a sua própria fraqueza. "Não sei se consigo lidar com isso, Pedro. Sinto-me tão perdida."
"A força não vem da ausência de medo, mas da coragem de enfrentá-lo," disse ele, a determinação visível na sua postura.
Com um novo espírito, Clara decidiu que não iria escusar-se de explorar o seu passado. Sabia que a verdade poderia ser dolorosa, mas era um passo que estava disposta a dar. "Vamos procurar respostas. Não posso continuar a viver assim, atormentada pelas sombras do que fui."
Pedro assentiu, um brilho de aprovação nos olhos. "Faremos isso juntos. Começaremos a procurar pistas, investigar as memórias apagadas. Quem sabe o que poderemos descobrir?"
Assim que uniram forças, Clara sentiu uma nova esperança a florescer dentro dela. O seu futuro estava nuvens, mas agora uma luz começava a brilhar através da escuridão. Era necessário enfrentar os mistérios que a assombravam. A sua busca por respostas tornava-se, assim, uma viagem de autodescoberta e libertação.